002 - 2006
The King is dead. Long live the king!
1 livro
"Os Maias" - Dupla e celebrada releitura
O retrato que Eça de Queirós traça de si e da sua época, é simplesmente brilhante. Somos confrontados com um Portugal finissecular, que nos parece muito distante do actual (a monarquia ainda ditava as leis, o comboio era ainda uma relativa novidade). Mas com o decorrer da obra as atitudes, os comportamentos, as reacções das personagens trazem consigo uma estranha e sempre presente sensação de familiaridade.
E é no final que compreendemos o que estivemos a ler. Não é um retrato de Portugal no final do século XIX. É Portugal em todo o seu esplendor e glória.
1 concerto
Final Fantasy-16 de Outubro
21h 50
A sala está composta. Normal. O rapaz acabou de ter o albúm apreciado no Y com 9/10 valores, faz parte de um dos mais geniais grupos do momento, os Arcade Fire (onde é violinista) e já trabalhou com a Orquestra Barroca de Toronto. Para cúmulo, o álbum é mesmo bom.
Erro: A sala devia estar esgotada.
Olho à minha volta e reconheço a "tribo" (esquerdistas, alternativos, vanguardistas, pós-modernos, elitistas...). À minha frente o palco. Despido. Um orgão. Uma tela de projecção. Um projector.
Estupidamente penso: Projector?! Onde é que foram desencantar esta raridade? A alguma escola secundária?
22h00
Owen Pallett a.k.a Final Fantasy entra em palco. T- shirt, calças e o seu violino.
Estupidamente (mais uma vez) penso: Como é que ele vai conseguir ser fiel ao disco? Se ao menos tivesse um computador à frente!
E o projector? A resposta. Entra a segunda pessoa do projecto _____ a video jockey de serviço (sem vídeo). A Projeccionista, munida unicamente de acetatos recortados e coloridos.
Owen começa a dedilhar o seu violino e grava esse som, é a sua primeira camada de som. Passa o arco nas cordas e cria uma melodia: 2.ª camada sonora. Tal qual um artesão vai acrescentando camada após camada até ter a sua tapeçaria sonora.
Final Fantasy 1 - Sujeito descrente e sem fé 0.
A Projeccionista começa a sua performance. Cuidadosamente vai colocando e manobrando pedaços de acetato. Uma praça, pessoas a passear, pássaros a voar no meio das nuvens.
2-0
O combate prossegue, estou esmagado. Benditos 7.5 euros!
Olho em volta e os rostos à minha volta reflectem o meu. Espantados, maravilhados.
Owen salta para o orgão e grava mais uma camada de som. Avança para o violino e usa o sampler que fez no orgão. A Projeccionista dedilha um piano na tela. Lindo!
Owen P. grita para dentro do violino e grava o som, o violino é violentado até aos limites do impossível.
O homem é discreto no palco. Pouco comunicativo. Fala baixo e devagar, no entanto tem sentido de humor.
Última música. É tarde queixa-se o autor. A Projeccionista cria um céu estrelado, iluminado por milhares de cintilantes estrelas. Owen canta. De cada canto da tela de projecção surge um rosto, que se vai aproximando e afastando numa dança enleante. Olho à minha volta. Está tudo suspenso. O beijo entre os rostos concretiza-se. Owen termina a música. A apoteose.
FINAL FANTASY
1 Disco
Beck- The Information
É o melhor disco de Beck desde o extraordinário Midnight Vultures e dizer isto já é dizer muito.
A voz aparece suja, desgastada. Depois do falsete em Midnight Vultures temos o rocker em The Information. Além disto o cocktail beck do costume, música pop sem pais definidos. Hip-hop, rock, vocoders, country, western, solos de piano, pop atmosférica, harmónica. BECK!!!!
1 filme
The Departed - Martin Scorsese
Scorsese de regresso ao universo de "Tudo Bons Rapazes", ou seja sangue, acção, suspense e humor em doses recomendadas.
O argumento é bastante bom, criando uma incerteza no espectador que dura até às últimas cenas.
3 actuações superlativas:
Jack Nicholson, a fazer de Jack Nicholson. Mas fá-lo tão bem que lhe perdoamos esse pormenor.
Leonardo di Caprio, no seu papel mais consistente desde que entrou no universo Scorsese. Conseguiu transmitir toda a complexa mistura entre força e fragilidade que o personagem exigia.
É um injustiçado. Actor de enorme talento que teve um grande percalço. Foi protagonista no Titanic. Desde então a crítica especializada e uma parte do público estão à espera de um deslize. Mas estão com algum azar, o rapaz escolhe bem os filmes e os realizadores com quem trabalha.
Matt Damon. Brilhante. O seu polícia corrupto é de uma densidade assustadora. A confirmar o que já se vira em O Talentoso Mr.Ripley.
1 série
Nip Tuck
Abençoados Drs. Sean McNamara e Christian Troy. A série mais estimulante do momento.
2 cirurgiões plásticos, as suas operações e a mundanidade e artificialidade que rodeia o seu mundo. Podia ser uma série cor-de-rosa. Puro engano, se fosse uma cor seria negro. O lema: vai além da superfície. Não fiques pela pele, levanta-a e vê o que se esconde debaixo. Vê além da aparência.
Episódio após episódio somos atirados para a lama da miséria humana. Mentira, traição, luxúria, vaidade, orgulho, soberba, ambição. E nunca nos fartamos.
Episódio após episódio somos enviados para um carrossel cheio de loops. Ficamos cansados. O nosso cérebro fervilha. E depois?
1 livro
"Os Maias" - Dupla e celebrada releitura
O retrato que Eça de Queirós traça de si e da sua época, é simplesmente brilhante. Somos confrontados com um Portugal finissecular, que nos parece muito distante do actual (a monarquia ainda ditava as leis, o comboio era ainda uma relativa novidade). Mas com o decorrer da obra as atitudes, os comportamentos, as reacções das personagens trazem consigo uma estranha e sempre presente sensação de familiaridade.
E é no final que compreendemos o que estivemos a ler. Não é um retrato de Portugal no final do século XIX. É Portugal em todo o seu esplendor e glória.
1 concerto
Final Fantasy-16 de Outubro
21h 50
A sala está composta. Normal. O rapaz acabou de ter o albúm apreciado no Y com 9/10 valores, faz parte de um dos mais geniais grupos do momento, os Arcade Fire (onde é violinista) e já trabalhou com a Orquestra Barroca de Toronto. Para cúmulo, o álbum é mesmo bom.
Erro: A sala devia estar esgotada.
Olho à minha volta e reconheço a "tribo" (esquerdistas, alternativos, vanguardistas, pós-modernos, elitistas...). À minha frente o palco. Despido. Um orgão. Uma tela de projecção. Um projector.
Estupidamente penso: Projector?! Onde é que foram desencantar esta raridade? A alguma escola secundária?
22h00
Owen Pallett a.k.a Final Fantasy entra em palco. T- shirt, calças e o seu violino.
Estupidamente (mais uma vez) penso: Como é que ele vai conseguir ser fiel ao disco? Se ao menos tivesse um computador à frente!
E o projector? A resposta. Entra a segunda pessoa do projecto _____ a video jockey de serviço (sem vídeo). A Projeccionista, munida unicamente de acetatos recortados e coloridos.
Owen começa a dedilhar o seu violino e grava esse som, é a sua primeira camada de som. Passa o arco nas cordas e cria uma melodia: 2.ª camada sonora. Tal qual um artesão vai acrescentando camada após camada até ter a sua tapeçaria sonora.
Final Fantasy 1 - Sujeito descrente e sem fé 0.
A Projeccionista começa a sua performance. Cuidadosamente vai colocando e manobrando pedaços de acetato. Uma praça, pessoas a passear, pássaros a voar no meio das nuvens.
2-0
O combate prossegue, estou esmagado. Benditos 7.5 euros!
Olho em volta e os rostos à minha volta reflectem o meu. Espantados, maravilhados.
Owen salta para o orgão e grava mais uma camada de som. Avança para o violino e usa o sampler que fez no orgão. A Projeccionista dedilha um piano na tela. Lindo!
Owen P. grita para dentro do violino e grava o som, o violino é violentado até aos limites do impossível.
O homem é discreto no palco. Pouco comunicativo. Fala baixo e devagar, no entanto tem sentido de humor.
Última música. É tarde queixa-se o autor. A Projeccionista cria um céu estrelado, iluminado por milhares de cintilantes estrelas. Owen canta. De cada canto da tela de projecção surge um rosto, que se vai aproximando e afastando numa dança enleante. Olho à minha volta. Está tudo suspenso. O beijo entre os rostos concretiza-se. Owen termina a música. A apoteose.
FINAL FANTASY
1 Disco
Beck- The Information
É o melhor disco de Beck desde o extraordinário Midnight Vultures e dizer isto já é dizer muito.
A voz aparece suja, desgastada. Depois do falsete em Midnight Vultures temos o rocker em The Information. Além disto o cocktail beck do costume, música pop sem pais definidos. Hip-hop, rock, vocoders, country, western, solos de piano, pop atmosférica, harmónica. BECK!!!!
1 filme
The Departed - Martin Scorsese
Scorsese de regresso ao universo de "Tudo Bons Rapazes", ou seja sangue, acção, suspense e humor em doses recomendadas.
O argumento é bastante bom, criando uma incerteza no espectador que dura até às últimas cenas.
3 actuações superlativas:
Jack Nicholson, a fazer de Jack Nicholson. Mas fá-lo tão bem que lhe perdoamos esse pormenor.
Leonardo di Caprio, no seu papel mais consistente desde que entrou no universo Scorsese. Conseguiu transmitir toda a complexa mistura entre força e fragilidade que o personagem exigia.
É um injustiçado. Actor de enorme talento que teve um grande percalço. Foi protagonista no Titanic. Desde então a crítica especializada e uma parte do público estão à espera de um deslize. Mas estão com algum azar, o rapaz escolhe bem os filmes e os realizadores com quem trabalha.
Matt Damon. Brilhante. O seu polícia corrupto é de uma densidade assustadora. A confirmar o que já se vira em O Talentoso Mr.Ripley.
1 série
Nip Tuck
Abençoados Drs. Sean McNamara e Christian Troy. A série mais estimulante do momento.
2 cirurgiões plásticos, as suas operações e a mundanidade e artificialidade que rodeia o seu mundo. Podia ser uma série cor-de-rosa. Puro engano, se fosse uma cor seria negro. O lema: vai além da superfície. Não fiques pela pele, levanta-a e vê o que se esconde debaixo. Vê além da aparência.
Episódio após episódio somos atirados para a lama da miséria humana. Mentira, traição, luxúria, vaidade, orgulho, soberba, ambição. E nunca nos fartamos.
Episódio após episódio somos enviados para um carrossel cheio de loops. Ficamos cansados. O nosso cérebro fervilha. E depois?
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