White Noise

E o raio do despertador que volta a tocar. Tenho a cabeça pesada. O silvo do sonho continua a ecoar na minha cabeça. A encher cada recanto. Tenho 60 notificações. Ler, passar, ignorar. Levanto-me e cambaleio lentamente rumo à casa de banho. O espelho cansado devolve a minha imagem. Uma torrada. Um sumo de laranja. Um café. Ligar o computador. 30 mensagens. Ler 20. Responder a 10. Uma senhora nigeriana quer-me deixar a sua fortuna. 1 milhão de dólares. E eu só preciso de responder a um simples email. A fada verde chama-me. Há novas no mundo. Excitantes novidades. Ignoro. Mas ela insiste novamente. Há novas no mundo. Sigo-a. As novidades não são assim tão novas, nem excitantes. No entanto, estou 15 minutos a olhar para elas. Algumas fazem-me sorrir. Outras simplesmente parar. O telefone toca pela primeira vez. 10 minutos depois volto à sala. Ainda com o longo e penetrante silvo como companhia. Toca novamente o telefone. Massa. Vinho tinto. Café. O telefone volta a tocar. A fada verde volta a chamar. Rio. Partilho. Paro. O telefone toca novamente. A fada chama novamente. O computador tem mais 20 mensagens.. Bebo mais um café. Fumo o quinto cigarro. Recrimino-me por ter bebido 4 cafés e fumado. A fada verde chama me. Fumar faz mal. Mas tomar café faz bem. Sorrio novamente. Ou seria fumar faz bem e o café faz mal? O telefone toca novamente. Fecho o computador. Há um programa de exercícios infalíveis para ter um corpo perfeito. Faço trinta minutos de exercícios infalíveis para ter um corpo perfeito. Ligo a televisão. Depois de 30 minutos decido o que irei ver. Toca a campainha. No saco de papel vem um prato maravilhoso, do restaurante maravilhoso que alguém maravilhoso me indicou, acompanhado pelo vinho maravilhoso, escolhido a partir de uma aplicação maravilhosa em que milhares de pessoas maravilhosas deixaram a sua opinião. Vejo 4 episódios seguidos enquanto a fada verde me vai mantendo informado do que se passa no mundo. Adormeço no sofá. E o som ainda não desapareceu da minha cabeça.

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