Avalanche
Nos dias seguintes procurei abster-me de realizar qualquer actividade não vital. Cheguei até ao ponto de falhar algumas actividades vitais. Feliz ou infelizmente respirar não foi uma delas.
O teu desaparecimento não foi uma surpresa. Mas nem por isso deixou de ser dolorosamente inesperado.
Na noite anterior estivemos a traçar planos. A cor das paredes da casa que estava quase pronta. O nome certo para o gato que estava sempre encostado ao portão. Da pertinência ou não do vídeo porteiro. A cor do mármore da nossa casa de banho. Se a estante para os livros deveria confirmar o anacronismo e ter igualmente espaço para o gira-discos.
A conversa fluiu à velocidade que a garrafa de vinho, que escolheste para nós, perdeu o seu conteúdo. E terminou enquanto fumavamos o último cigarro. Adormeci no sofá com o som da agulha do gira-discos a raspar no papel, imediatamente antes desta subir e se desligar.
Acordei com a língua seca. E sem ti.
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