Labirinto

Era um barco à deriva.

Os humores levavam-no de um lado para outro. 
Sem qualquer lógica ou sentido. Sem direção. Sem possibilidade de utilizar as estrelas.
Acordava e decidia o seu futuro. Adormecia já no presente. E no dia seguinte um novo destino era traçado. 
A sua vida nada tinha mudado. 
Continuava sozinho. Continuava desiludido. Continuava a envelhecer. Continuava a procurar remediar o passado nos seus sonhos. Continuava a tentar reparar velhos amores através de sinais e códigos replicados através de um écran. 
Mas a completa inconsistência dos seus dias começava a assorear os seus inabaláveis e costumeiros pensamentos. 
Acordou. Todos os dias passava os primeiros 5 minutos do dia a recordar, imagem a imagem, sensação a sensação, todos os seus sonhos. Nesse dia não conseguiu. Tudo não passava de um borrão indistinto. Uma amálgama de cores, sons e cheiros. Passou os 10 minutos seguintes a tentar perceber o porquê de tal ter acontecido. Passou os 20 minutos seguintes a tentar encontrar a ponta do novelo. Não o encontrou. Ligou o telemóvel. E não encontrou nada que o pudesse ajudar a refazer o caminho. Não havia migalhas na floresta. Alguém as tinha apanhado. Uma a uma.  Durante 30 minutos andou para cima e para baixo. Para a esquerda e a direita. E não encontrou nada que o fizesse retomar um caminho já percorrido. 
Abriu os olhos.

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