Um cigarro


M. achou que era tempo de partir. Tinha estado três meses à espera que R. reconsiderasse. Que finalmente o procurasse e lhe dissesse que o amava tanto quanto ele a amava. 
Sabia-o. A um nível molécula. Atómico. E sabia-o desde a primeira vez que a viu segurar um cigarro. Havia algo na forma como ela o segurava que desafiava a simetria e a lógica. Como se o gesto tivesse sido inventado por R. Como se nunca ninguém tivesse segurado num. Como se fosse a primeira vez que o via. 
A singularidade é sempre captada no quotidiano. Todos repetimos os mesmos gestos, todos os dias, todas as horas, todos os minutos. Dormimos, acordamos, comemos, trabalhamos, bebemos, fumamos e fodemos. E no entanto, conseguimos ser únicos em cada um. 
Em R. começava na forma como segurava o cigarro.

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