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Estavam sós no meio de muita gente. Nenhum dos dois percebia como, de que forma e em que momento tinham ficado ligados. Mas na verdade aconteceu como muitas vezes acontece. Através da justaposição de palavras, respiração e pele. Talvez tenha havido mais. A cidade onde estavam. O jantar em que coincidiram. O vinho tinto que partilharam. 
Entraram num clube. A música preenchia todo o espaço à sua volta e as palavras iam dizimando todas as barreiras existentes. 
Enfeitiçados decidiram desaparecer na multidão, que era simultaneamente escudo e concha, e colocarem-se frente pela primeira vez, desarmados e inteiros. A primeira vez em que se viam de verdade. A música continuava a estreitar a distância entre os dois. Até ao ponto de estarem já confundidos. De não se perceber onde começava um e acabava o outro. Ela desviou o cabelo desvelando a sua nuca e ele pela primeira vez percorreu-lhe todo o espaço entre o pescoço e o lóbulo da sua orelha. Sentiu algo morno e metálico. Nos seus lábios trazia uma oferenda. Um brinco. Olharam-se pela primeira vez como parte um do outro. E beijaram-se.

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