Varanda
Sentei-me na varanda. Acendi um cigarro. E comecei a fazer o que faço sempre que preciso respirar. Sempre que preciso parar. Sempre que preciso não pensar. Olhei para o ponto mais longínquo e tentei focar a minha atenção num detalhe. Obviamente o que acontece é que ao final de alguns segundos tenho o olhar e o cérebro turvos. E durante uns segundos, durante uns minutos não consigo pensar em nada. Diria que consigo atingir um estado semelhante quanto bebo. Mas aqui há claramente uma vantagem económica que não é discipienda. Olhar em frente é bastante mais económico do que uma boa garrafa de vinho tinto.
Não pensar é na maior parte das vezes o meu objectivo. O meu pináculo. O meu graal.
Infelizmente, como em todas as buscas pela transcendência, o que vou conseguindo é desenvolver uma neurose à volta desta busca.
O que começa primeiro? O procurar não pensar ou a busca de como conseguirei fazê-lo?
Acendo um novo cigarro enquanto abro uma nova garrafa de vinho e olho para o ponto mais distante.
Comentários